Retrato
Não é somente um retrato, é uma marca no tempo.
É o registro de algo que ficará gravado para sempre.
Irá trazer lembranças de uma tarde de verão.
Lembranças do vento que balançava os cabelos, lembranças das risadas, lembranças carinhosas de queridos amigos.
Algo que irá resistir à morte.
Algo que será visto por pessoas que ainda não nasceram.
Um simples retrato, que irá despertar a imaginação, irá conduzir o observador a um tempo em que tudo parece ser mais simples, mais singelo.
É a prova de que houve um passado.
É a lembrança de um lugar que um dia poderá deixar de existir.
É o registro de algo que poderá virar história.
É apenas um retrato, capaz de encantar.
Um simples retrato, com a capacidade de reunir gerações que o tempo afastou.
Araraquara (SP)
19/6/2016
FORTUNA CRÍTICA
“Retrato”, de Zanin, é um poema leve, que segue descrevendo as marcas do tempo, por meio do retrato. Segundo Roland Barthes (1980), em sua obra “A câmara clara”, uma mesma fotografia pode ser apreendida de dois diferentes modos: a percepção do fotógrafo e a percepção do espectador. O que não impede que um observador/fotógrafo consiga extrair as duas percepções. Enquanto o olhar fotográfico se apreende na informação, nos sinais objetivos (studium), o olhar espectador, por sua vez, volta-se para as associações subjetivas, explorando, na fotografia, um objeto parcial de desejo, não-intencional, não-codificado, a que Barthes chama de punctum. É pelo viés desse olhar espectador que a poetisa cria a imagem poética de “Retrato”, e também é sob esse mesmo olhar que eu escrevo minha crítica, o que leva-me a intuir que a poetisa não deixa dúvidas, o retrato é atemporal; ele se encarrega de imortalizar pessoas e coisas, mas também cria um avatar, cuja maior missão é alegrar, ou torturar, os que estão sob a influência da imagem, remontando suas memórias.
(Ivone Gomes de Assis)